23 março, 2011

Belo Horizonte:cidade da cultura e cidade proibida


Nos últimos 5 anos, Belo Horizonte passou por várias transformações, algumas positivas outras negativas. Obras, reformas urbanas, iniciativas de grupos e instituições. Não é possível falar de todas aqui, mesmo que só citando, mas aos poucos neste espaço mensal quero relatar algumas delas. Falo aqui, de toda forma, da perspectiva de alguém que passou 5 anos fora da cidade e percebe desde que voltei a morar na cidade, de forma comparativa neste tempo, a ampla transformação da vida cultural da cidade. Será uma nova geração (diferente da minha)? Coletivos como o Pegada? Novos produtores e grupos artísticos? Também podemos falar sobre vários pontos de vista.

É visível o crescimento da oferta cultural na cidade, seja motivado pelo investimento de empresas e produtores, quanto o crescimento de espaços de cultura e manifestações culturais. Temos novos espaços de cultura abertos na cidade (com destaque para o Espaço 104 e o Espaço FUNARTE, antiga Casa do Conde) e outros a abrir (com destaque Cine SESC Palladium – este em 28/03 e o Centro Cultural Banco do Brasil, ainda sem data.), ao mesmo tempo, outros fecharam suas portas, como a Usina de Cinema. Bem, parece algum tipo de movimento vital das práticas e espaços culturais, que muitas vezes são fadados a nascer e morrer. Vale ressaltar ainda, que Belo Horizonte, ao contrário de outras grandes cidades do país como Rio, São Paulo, Salvador ou Porto Alegre continua sem a existência de uma cinemateca (papel que o Centro de Referência Audiovisual – CRAV da PBH não faz)  ou um museu de arte moderna ou contemporânea ativo, a exemplo do MASP ou MAC de Salvador. Ainda bem que temos por perto Inhotim, mas não é mesma coisa.

Por outro lado, mesmo com uma oferta crescente de espaços e atividades culturais pudemos perceber o crescimento número de proibições nos espaços públicos da cidade. Será a migração da cultura, agora só permitida nos espaços fechados? Será a cultura algo tão perigoso e descontrolado assim para não ocupar as ruas? Nas ruas só cabem o trânsito dos carros e as câmeras de segurança? Teatro sem pipoca, parque sem bicicleta, carnaval sem rua, passeio sem mesa de bar, como bem relata a reportagem do jornalista Augusto franco no Jornal do Hoje em Dia de 20/03/2011 – “Convivência: Belo-horizontino coleciona proibições” que merece ser lida e divulgada, já que demonstra a existência de algum tipo de imprensa inteligente em BH.

Mesmo assim, muito ainda precisa ser esclarecido quando falamos de críticas ao poder público na mídia mineira, bem, mas isto é outra polêmica. Outra forma de proibição, menos divulgada, quase uma censura, é a proibição a partir da Polícia Militar de eventos de rua nas favelas, prática já comum, ainda que para eventos comunitários, com o pretexto de que a aglomeração de pessoas pode gerar risco de situações violentas entre gangues rivais. Dois exemplos destas proibições, acontecem por exemplo, no Aglomerado Sta. Lúcia: o Reveillon Gente é pra Brilhar que acontecia a quase uma década na Barragem Sta. Lúcia numa linda festa que reunia, moradores da comunidade e dos bairros, e o Carnafavela, o carnaval da favela que movimentava o comunidade no carnaval.

Bem, felizmente a cidade assistiu nos últimos anos a um ressurgimento de ações e intervenções de contestação a estas proibições como a Praia da Estação e o sensacional carnaval de blocos de rua. No meio disso tudo me deparo com a divulgação nada inocente de que Márcio Lacerda foi eleito o melhor prefeito do Brasil.

Nosso desafio agora é ampliar este sentimento de insatisfação com uma gestão no mínimo contraditória  e arbitrária do governo municipal atual até a disputa eleitoral de 2012. Todos lembram da polêmica do acontece ou não acontece do FIT em 2011. A largada já foi dada para pré-campanha e se multiplica a publicidade da prefeitura paga com dinheiro público. Da mesma forma que Belo Horizonte foi redescoberto culturalmente nos últimos 5 anos, a cidade precisa ser redescoberta politicamente para os próximos 5 anos.

Rodolfo N. J. Fonseca
Sociólogo e Antropólogo  / Produtor Cultural / Realizador Audiovisual
Retirado do  Blog do Coletivo PEGADA onde escreve mensalmente.

Leia reportagem Convivência: Belo-horizontino coleciona proibições – Jornal do Hoje em Dia de 20/03/2011

Leia texto do site AH! Novo site sobre a BH que nos convida a redescobrir BH.